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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Estresse: o que é isso!!!!

Há autores que definem a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade; sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante.

Diz-se que a simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já preenche, por si só, um requisito suficiente para o surgimento da Ansiedade. Portanto, viver ansiosamente passou a ser considerado uma condição do homem moderno ou um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira, atrelados.

Nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos os níveis da sociedade passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física, mental e social. Muitas vezes, a grande exigência imposta às pessoas pelas mudanças da vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade imperiosa de ajustar-se à tais mudanças, acabaram por expor as pessoas à uma freqüente situação de conflito, ansiedade, angústia e desestabilização emocional.

O endocrinologista canadense Hans Selye (1907-1982) foi o primeiro a pesquisar seriamente o estresse na década de 1930. Ele observou que organismos diferentes apresentam um mesmo padrão de resposta fisiológica para estímulos sensoriais ou psicológicos. E isso teria efeitos nocivos em quase todos os órgãos, tecidos ou processos metabólicos. fungos, etc.

O estresse patológico surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial.

Seria impossível e, ao mesmo tempo, extremamente indesejável eliminar completamente todos os tipos de Estresses. Fisiologicamente, a ausência total de Estresse equivale à morte. O que devemos tentar fazer é reduzir, nas pessoas, os efeitos danosos do Estresse que sociedade proporciona e sensibilizá-las para os meios capazes ajudar a administrar melhor os estressores do cotidiano.

Devemos buscar uma postura onde o Estresse seja um acontecimento positivo e não um empecilho ao desempenho pessoal, à saúde e à felicidade. O ideal seria adquirirmos habilidades para melhorar física e mentalmente nossa resistência ao Estresse, bem como eliminar o Estresse desnecessário. Atitudes assim baseiam-se na modificação de alguns aspectos no estilo de vida nas atitudes.

Aproximadamente 50 a 75% de todas as consultas médicas estão direta ou indiretamente relacionadas ao Estresse. A medicina não deve ter apenas um papel importante no tratamento das doenças ligadas ao Estresse, mas também e principalmente, deve dar ao assunto uma conotação preventiva e educacional. Conhecer o Estresse, suas causas, sinais e sintomas, é de fundamental importância para aprendermos a lidar com ele.

Procurando significados para a palavra Estresse (stress, em inglês), vamos entender que estar estressado significa "estar sob pressão" ou "estar sob a ação de estímulo persistente".

Na realidade, estar estressado não significa apenas estar em contacto com algum estímulo mas, sobretudo, significa um conjunto de alterações acontecidas num organismo em respostas à um determinado estímulo capaz de colocá-lo sob tensão. Sem esse tal "conjunto de alterações" não se pode falar em Estresse. Mas essa reação do organismo aos agentes estressores tem um propósito evolutivo. É uma resposta que a natureza dotou os animais superiores ao perigo.

Hans Selye dividiu toda reação de Estresse em três estágios. O primeiro estágio, como veremos amis adiante, é a chamada Reação de Alarme, durante a qual o organismo reconhece o estressor e começa ativando o sistema neuroendócrino.

No Sistema Endócrino as glândulas supra-renais são as mais prontamente ativadas e produzem os hormônios típicos do Estresse, ou seja, o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina. Por causa disso, notadamente por conta da adrenalina, os batimentos cardíacos aceleram, há dilatação das pupilas, aumenta a sudorese e aparece hiperglicemia (aumento dos níveis de açúcar no sangue).
Concomitantemente a digestão é paralizada, o baço se contrai para expulsar mais glóbulos vermelhos para aumentar o fornecimento de oxigênio aos tecidos e interrompe a atividade imunológica (imunossupressão), por conta do cortisol. Depois dessa primeira reação de alarme existem mais duas fase fisiológicas no Estresse, a adaptação e o Esgotamento, vistas mais adiante.

A função de toda essa revolução orgânica é preparar o organismo para a ação, para adaptação imediata à situação causadora do Estresse para, em essência, favorecer a sobrevivência. Portanto, o Estresse não implica, obrigatoriamente, numa alteração patológica e doentia.

Longe de considerarmos o Estresse uma armadilha da natureza, esse conjunto de alterações fisiológicas tem como principal objetivo adaptar o indivíduo à situação proporcionada pelo estímulo estressor. O estado de Estresse está, então, intimamente relacionado com a capacidade de adaptação do indivíduo à circunstância atual. Ele contribui para a sobrevivência das espécies, incluindo a nossa.

Imagine como estaria seriamente comprometida a sobrevivência e um gato, caso permanecesse totalmente apático ao aparecer-lhe um cachorro pela frente. Da mesma forma, imaginemos um ser humano enfrentando uma tempestade com a mesma lassidão que sente depois de comer uma pesada refeição. No esporte, no trabalho ou na vida social o Estresse "normal" deve desempenhar uma função adaptativa e, sobretudo, sadia.

Há quem compare o Estresse com o susto e, de fato, há semelhanças entre as alterações fisiológicas que acontecem durante um susto com aquelas do Estresse. Assim, podemos dizer que o Estresse seria como um estado de susto crônico e continuado. O Estresse envolve o organismo como um todo e, assim como o aumento de adrenalina e cortisona possam ser considerados componentes endócrinos do Estresse, a ansiedade seria, igualmente, um dos componentes psíquicos.

Nenhuma alteração do organismo terá início se não houver, antes, a presença de um estímulo estressor. Podemos chamar de Estímulo Estressor ou Agente Estressor, qualquer estímulo capaz de provocar num organismo, esse complexo conjunto de respostas orgânicas, mentais, psicológicas e/ou comportamentais definidas como Estresse.

Embora haja uma vasta série de modificações na composição química e na estrutura funcional do organismo diante do Estresse, estas podem ser consideradas fisiológicas e necessárias à adaptação do indivíduo à situação atual, porém, sendo muito intensas ou muito duráveis, tais modificações podem resultar em dano ou lesão. Nesse caso, ao invés de contribuírem para a adaptação farão exatamente o contrário.

A própria classificação internacional das doenças (CID.10), agrupa num mesmo capítulo as Reações Agudas ao Estresse Grave e os Transtornos do Ajustamento (adaptação), sugerindo assim que uma pode levar ao outro.

Na década de 30, o pesquisador canadense Hans Selye, quem estudou pela primeira vez e profundamente essa questão, denominou o conjunto das modificações orgânicas resultantes do contacto do organismo com um determinado estímulo desencadeador de tensão de Sindrome Geral de Adaptação (SGA).

O que é o Estresse
Ao se deparar com o Agente Estressor, que pode ser interno ou externo, o organismo desenvolve um processo fisiológico, que consiste no somatório de todas as reações sistêmicas, conhecido como Síndrome Geral de Adaptação. Assim, podemos entender que essa Síndrome Geral de Adaptação ou Estresse é a alteração global de nosso organismo para adaptar-se à uma situação nova ou às mudanças de um modo geral.

O Estresse é, portanto, um mecanismo normal necessário e benéfico ao organismo, pois faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de perigo ou de dificuldade. Mesmo situações consideradas positivas e benéficas, como é o caso por exemplo das promoções profissionais, casamentos desejados, nascimento de filhos, etc., podem produzir Estresse.

Na adaptação do organismo (e da mente) aos estímulos estressores, devemos entender que mesmo as situações que requerem pequenas mudanças ou adaptações, podem gerar um grau discreto de estresse, variável de pessoa a pessoa, conforme as características pessoais de reagir aos estímulos.

Em termos científicos, o estresse é a resposta fisiológica e de comportamento de um indivíduo que se esforça para adaptar-se e ajustar-se a estímulos internos e externos. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em uma fase de esgotamento.

Sabendo que cada pessoa reage de forma diferente aos estímulos da vida, elas também terão limiares diferentes de esgotamento por estresse. Segundo a sensibilidade afetiva da pessoa, portanto, segundo a "visão" que cada um tem da realidade, da valolrização do passado ou das perspectivas do futuro, as reações de estresse podem ser mais favorecidas ou menos. Uma representação pessimista da realidade pode favorecer estas reações, enquanto a representação positiva produze amenizar os efeitos estressores.

Uma "dose baixa" de Estresse é normal, fisiológico e desejável. trata-se de uma ocorrência indispensável para nossa saúde e capacidade produtiva. As características desse Estresse positivo são: aumento da vitalidade, manutenção do entusiasmo, do otimismo, da disposição física, interesse, etc. Por outro lado, o Estresse patológico e exagerado pode ter conseqüências mais danosas, como por exemplo o cansaço, irritabilidade, falta de concentração, depressão, pessimismo, queda da resistência imunológica, mau-humor etc.

Do ponto de vista pessoal, mudanças ocorrem em nossas vidas continuamente e temos sempre de nos adaptar à elas. Nesses casos o Estresse funciona como um mecanismo de sobrevivência e adaptação, necessário para estimular o organismo e melhorar sua atuação diante de circunstâncias novas.

Do ponto de vista social e cultural as mudanças cotidianas, em si, não são novidade na civilização humana, elas são, na realidade, a base da evolução de nossa espécie. O que, talvez, seja novo ao ser humano e perigoso à sua saúde, é a velocidade sem precedentes com a qual essas mudanças e as exigências que elas propiciam acontecem na vida moderna. Essas mudança estão em toda a parte; mudanças importantes na tecnologia, na ciência, medicina, ambiente de trabalho, nas estruturas organizacionais, nos valores e costumes sociais, na filosofia e mesmo na religião. Há, continuamente, uma enorme solicitação de adaptação às pessoas em geral, tanto para os jovens como para os mais velhos.

O Estresse na Vida Moderna
A Ansiedade, que é a mola propulsora do Estresse, é um sinal de alerta que adverte sobre a necessidade de mudar e adaptar-se, ou sobre eventual perigo iminente, e capacita a pessoa para medidas eficientes nesse sentido. O indivíduo ansioso age, coloca-se em posição de alerta, física e psiquicamente; dilata as pupilas, acelera o coração, diverge o sangue para musculatura voluntária, aumenta a glicose circulante, dilata os brônquios.

A Ansiedade, originalmente fisiológica e indispensável à vida normal, passou a ser objeto de distúrbios quando o ser humano colocou-a não a serviço de sua sobrevivência, como fazia antes, mas a serviço de sua existência, com o amplo leque de circunstâncias quantitativas e qualitativas desta existência. Assim, o Estresse passou a ser o representante emocional da Ansiedade, sua correspondência psíquica e determinada de acordo com características pessoais.

O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da natureza do mesmo, como acontece no mundo animal, mas do significado atribuído à este evento pela pessoa, de seus recursos, de suas defesas e de seus mecanismos de enfrentamento. Isso tudo diz respeito mais à personalidade que aos eventos do destino em si.

Arqueólogos consideram que homem primitivo trabalhava muito menos que nós, cerca de vinte horas semanais. Sua jornada diária correspondia à caça e colheita de frutos. O ser humano primitivo manifestava sua ansiedade de maneira muito próxima ao sentimento de medo, um medo especificamente dirigido a um objeto ou situação específicos e delimitados no tempo e no espaço, ou seja, a situação, o perigo e a ameaça estavam de fato ali, nesse determinado lugar e nesse determinado momento.

Em nossos ancestrais o mecanismo do Estresse foi destinado à sobrevivência diante dos perigos concretos e próprios da luta pela vida, como foi o caso das ameaças de animais ferozes, das guerras tribais, das intempéries climáticas, da busca pelo alimento, da luta pelo espaço geográfico, etc.

No ser humano moderno, apesar dessas ameaças concretas não existirem mais em sua plenitude, tal como existiram outrora, o equipamento biológico do Estresse continuou existindo. permaneceu em nossa natureza como capacidade para reagirmos ansiosamente diante das ameaças.

Com a civilidade do ser humano outros perigos apareceram e ocuparam o lugar daqueles que estressavam nossos ancestrais arqueológicos. Atualmente a maioria dos estímulos desencadeadores desta emoção são inespecíficos, não podem ser localizados no tempo e no espaço. Hoje em dia tememos a competitividade social, a segurança social, a competência profissional, a sobrevivência econômica, as perspectivas futuras e uma infinidade de ameaças abstratas mas reais para nós, enfim, tudo isso passou a significar a mesma ameaça de perigo que ameaçavam a sobrevivência de nossos ancestrais. O ser humano moderno coloca-se em posição de alarme diante de um inimigo abstrato e impalpável mas, não obstante, que dorme e acorda com ele.

Se nas sociedades primitivas e neolíticas nossos ancestrais experimentavam estresse diante dos perigos objetivos da sobrevivência física, hoje em dia o Estresse surge quando a pessoa julga não estar sendo capaz de cumprir as exigências da sobrevivência social, quando sente que seu papel social está ameaçado. Diante disso o organismo reage através da Síndrome Geral de Adaptação a fim de tentar se adequar às exigências que lhe são impostas.

Mesmo na Idade Média o ser humano ainda trabalhava pouco em comparação ao homem moderno. Havia o descanso obrigatório aos domingos e cinqüenta feriados por ano, sendo braçais a maioria dos trabalhos, os quais sempre terminavam ao pôr-do-sol. Também, em termos de estimulação e de necessidades de conhecimentos para o simples cotidiano, o que se exigia de um cidadão comum da Idade Média era infinitamente menor que precisa hoje uma criança de 12 anos.

Tudo leva a crer que o ser humano começou, de fato, a padecer por Estresse excessivo depois da Revolução Industrial. Talvez o que a vida passou a exigir das pessoas nesses últimos 80 a 50 anos tenha sido imensamente maior que o desenvolvimento da capacidade neuro-psicofisiológica de adaptação, resultando pois, nas dificuldades em conciliar harmonicamente as necessidades adaptativas da vida social e nossos recursos orgânicos.

Durante uns 40 anos do Século XX o êxodo rural levou milhões de pessoas a trocar a vida do campo pela agitação das cidades, com suas características competitivas, agressão urbana, desafios profissionais e de sobrevivência. O ritmo frenético da vida moderna talvez tenha exigido demasiadamente do corpo humano e até a possibilidade de adoecer passou a ser uma ameaça potencial ao sucesso social da pessoa.

Nossos conturbados tempos modernos não têm sido favoráveis ao equilíbrio e ao desenvolvimento pleno e sadio do corpo humano, apesar de todo o progresso da medicina, das conquistas científicas, técnicas e sociais que sempre têm objetivado isso. Hábitos alimentares inadequados, a poluição do ar e da água, a agressão sonora e visual do ambiente, a insegurança social e no trabalho, a violência urbana, as crises econômicas e muitas outras fontes de estresse importantes acabam esgotando a capacidade adaptativa da pessoa.

Assim sendo, a maioria dos autores acredita que parte expressiva das reazões para o estresse é determinada pelo modo como nossa sociedade está organizada, pela industrialização, pelo consumo e pela concorrência, especifica os tipos de relações que serão mantidas e as exigências que deverão ser cumpridas, gerando condições mais ou menos estressantes de trabalho, das estruturas familiar e social.

Outro agravante do estresse, em seu aspecto cultural, está na "liberdade" que a pessoa tem de expressar os comportamentos e atitudes fisiologicamente próprias do estado de tensão. No mundo moderno não é socialmente aceitável que a pessoa manifeste comportamentos típicos de fuga ou luta, que era a função natural e o objetivo biológico original do estresse.

Assim, o ser humano moderno, ao se confrontar com estímulos estressores do cotidiano, do trabalho, da vida social e pelas ruas é impedido de manifestar reações de agressão ou de medo sincero, sendo obrigado a apresentar um comportamento emocional ou motor politicamente correto, porém, incongruente com sua real situação neuroendócrina. Se a situação estressante persiste indefinidamente pode sair muito caro, organicamente, o custo de desempanhar um papel social incompatível com a natureza biológica do estresse. Haverá um elevado desgaste do organismo, predispondo certas doenças psicossomáticas.

Entre os estressores de peso social temos o fracasso, a carga, a manutenção, momnotonia e a satisfação com o trabalho, a pressão para corrida contra o tempo, as ameaças sociais e financeiras, indução do medo através da violência urbana, as situações involuntárias de competição, os trabalhos em condições de perigo, a submissão involuntária aos tabus, a contestação e contrariedade com certos valores, a contrariedade ou privação de vida social e submissão contrariada às normas.

Fatores Estressantes
Em tese, Estresse é a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um indivíduo que procura se adaptar e se ajustar às solicitações internas e/ou externas. Essas solicitações capazes de levar ao Estresse são chamadas de Fatores Estressantes ou Agentes Estressores.

Assim sendo, Fator Estressor é um acontecimento, uma situação, uma pessoa ou um objeto capaz de proporcionar suficiente tensão emocional, portanto, capaz de induzir à reação de Estresse.

Os fatores estressantes podem variar amplamente quanto à sua natureza, abrangendo desde componentes emocionais, como por exemplo a frustração, ansiedade, perda, até componentes de origem ambiental, biológica e física, como é o caso do ruído excessivo, da poluição, variações extremas de temperatura, problemas de nutrição, sobrecarga de trabalho, etc. De um modo geral vale a classificação dos estressores como está no quadro ao lado.

Podemos ainda considerar os estressores como tendo origem interna ou externa ao indivíduo. Se colocarmos um gato junto de um cão feroz, depois de algum tempo o gato estará esgotado; primeiro ele terá muita ansiedade, entrará em Estresse e, se o estímulo estressor persistir (presença do cão), ele se esgotará.

Tendo em vista o fato do gato representar para o cão uma ameaça menos agressiva que o cão representa para ele, o cão ficará esgotado depois do gato. Nesse caso o cão representa para o gato um estímulo estressor externo, por estar fora do gato e, inato, por fazer parte da natureza biológica de todos os gatos.

Assim sendo, nos animais os estímulos para desencadear a ansiedade podem ter duas naturezas e uma só origem: quanto à natureza eles podem ser inatos, como vimos, do tipo gato tem medo de cachorro ou, por outro lado, condicionados por treinamento e experiência.

Quanto à origem serão predominantemente externos, partindo do pressuposto que os animais não têm condições para alimentarem conflitos intrapsíquicos. Mesmo assim, podemos dizer que alguns estímulos estressores para animais têm origem interna quando provém de comportamentos inatos.

No ser humano, dito civilizado, esses estímulos costumam ter duas origens; podem ser externos e, principalmente, internos. Os estímulos internos são oriundos dos conflitos pessoais os quais, em última instância, refletem sempre a tonalidade afetiva de cada um. Os estímulos externos, por sua vez, representam as ameaças concretas do cotidiano de cada um.



Transtornos afetivos, traços de personalidade
Portanto, por causa da percepção individual que temos da realidade não é totalmente lícito dizer que esse ou aquele determinado fato são estressores, pois alguns fatos podem representar estressores para alguns e não para outros.

A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa maneira de ver e sentir o mundo. Engloba não apenas a concepção que temos das coisas que estão fora da gente como os conceitos que temos dentro da gente. Isso inclui também a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja, inclui nossa própria auto-estima.

Nossa auto-estima, por exemplo, pode ser representada mais negativamente ou mais positivamente, de acordo com a tonalidade afetiva de cada um. Algumas pessoas se vêem ótimas, outras se vêem péssimas. Assim sendo, a idéia que nós temos de nós mesmos pode ser um estímulo agressivo e estressor, causador de ansiedade, se representar uma idéia ruim e que nos perturba constantemente.

É por causa desses estímulos internos é que a ansiedade humana tem sido constante e, às vezes, patológica. As ameaças externas não costumam ser constantes mas as internas sim. Vejamos o caso das ameaças concretas acerca de nossa segurança pessoal, por exemplo: a ameaça de ser assaltados, agredidos, morto, etc.

A possibilidade até existe, nos grandes centros, mas não é continuada. Há situações onde podemos nos sentir seguros, racionalmente falando. Entretanto, o estímulo interno não é racional, é emocional. Isso quer dizer que podemos estar ansiosos devido ao medo de sermos assaltados e agredidos, embora essa possibilidade prática seja mínima.

Da mesma forma, podemos dizer que ficar doente seja uma ameaça séria, um estímulo ameaçador importante. É claro que é. Entretanto, podemos experimentar uma grande ansiedade devido ao fato de pensarmos que podemos ficar doentes. Esse estímulo é interno e não externo. Seria externo caso houvesse, de fato, sinais de que nossa saúde está abalada. Enquanto houver apenas o medo de passar mal, de poder ficar doente, isso será uma ameaça interna.

Ora, enquanto nos animais os agentes estressores (estímulos estressores externos) aparecem periodicamente, no ser humano a presença dos estímulos estressores (internos) pode ser continuada. Havendo pois, uma afetividade problemática, uma insegurança e pessimismo vamos sentir ameaças internas continuamente. Vamos dormir com essas ameaças e acordar com elas. Portanto, nessas circunstâncias podemos ter o esgotamento.

De modo geral, no ser humano a afetividade é a moduladora da percepção que temos do mundo (procepção), e será essa afetividade a maior responsável por percebermos os estímulos como sendo agressivos e ameaçadores (estressores) ou não. Mesmo se tratando de um estímulo externo, proveniente do mundo objetivo, sua eventual natureza agressiva poderá ser mais traumática ou menos traumática, dependendo da conotação à ele atribuída por nosso afeto.

Assim sendo, os estímulos ambientais se tornarão estressores não apenas de acordo com a sua natureza objetiva mas, sobretudo, de acodo avaliação subjetiva que a pessoa faz deles, atribuindo-lhes ou não importância. O mesmo podemos dizer em relação aos estímulos internos, ou seja, aos conflitos, frustrações, medos, sentimentos de perda, etc. Dependendo de nosso afeto essas emoções e sentimentos podem significar uma ameaça maior ou menor.

A existência dos conflitos pode ser considerada fisiológica na espécie humana, ou seja, eles existem em todos nós. Porém, é muito importante saber da capacidade desses conflitos determinarem uma ansiedade patológica, isso sim merece uma dedicação especial. Determinarão ansiedade na proporção que significarem ameaça para nós.

A Força dos Estressores
Vários autores tentaram estabelecer alguma espécie de graduação de importância para os vários estímulos estressores possíveis no cotidiano. Embora algumas listas possam dar a idéia de grau ou da força variável dos estressores, como por exemplo, o caso da separação conjugal que seria mais estressante que mudança de emprego e menos do que a morte do filho, tais tabelas perdem o valor quando consideramos que as pessoas são muito diferentes quanto à sua forma de reagir aos desafios impostos pela vida.

Algumas pessoas podem superar perfeitamente alguma perda importante, enquanto outros podem desenvolver um transtorno emocional como resposta à acontecimentos estressantes de menor importância. As variáveis pessoais desempenham um papel decisivo na maneira de reagor aos eventos de vida.

De um modo geral, pelo menos é bom termos em mente que existem categorias de estressores que nos impõem grandes esforços adaptativos, como por exemplo, a morte de um ente querido, uma grande perda, severos revezes econômicos, constatação de doença séria, etc., e, ao lado desses, existem os pequenos acontecimentos estressantes do cotidiano que acontecem com maior frequência na vida das pessoas e, finalmente, existem ainda a influência dos conflitos íntimos pessoais.

Mas, além dos acontecimentos consideradosev entualmente estressantes para o desencadeamento e manutenção do Estresse, há imperiosa necessidade de uma vulnerabilidade pessoal à ansiedade.

Vulnerabilidade pessoal é uma espécie de tendência constitucional a reagir mais ansiosamente aos estímulos. Algumas pessoas reagem com uma ativação fisiológica maior aos acontecimentos estressantes.

Um exemplo médico que pode se prestar à analogia com o Estresse seria, novamente, o da reação alérgica. Se, dentro de um mesmo ambiente impregnado de bolor, existirem 10 pessoas e 3 delas reagirem com espirros, coriza e lacrimejamento, enfim, com sinais de uma rinite alérgica ao mofo, não se pode, medicamente falando, atribuir ao fungo do bolor a causa exclusiva para tal rinite.

Se assim fosse todos os demais também teriam essa reação. Para ocorrer a reação alérgica é indispensável existir o mofo mais a sensibilidade pessoal. No máximo, podemos dizer que para a reação alégica do exemplo são necessários dois elementos; o fungo e a sensibilidade da pessoa.

Ao se estudar a Violência Urbana e suas conseqüências psiquiátricas, podemos encontrar tabelas (como a abaixo) que listam estímulos estressores relacionados ao desenvolvimento Transtorno por Estresse Pós-Traumático de intensidade moderada ou grave. Atualmente, as guerras e os refugiados que estas ocasionam, também estão sendo objeto de especial atenção por parte dos investigadores.


De qualquer forma é fundamental ter em mente que a força dos estressores depende mais da sensibilidade do sujeito do que do valor do objeto, ou seja, depende de como e com que peso a pessoa valoriza o evento (interno ou externo), mais do que o evento em si. Há pessoas que vivenciam as mesmas experiências que outros e regem diferentemente, experimentando estresse de grau variado ou, às vezes, nem se estressando. É por isso que estudamos, a seguir, o aspecto pessoal dos estressores.

Efeitos Pessoais dos Estressores
Nossa capacidade de conhecer o mundo decorre de nossa percepção pessoal da realidade. Essa percepção pessoal da realidade, diferente em cada um de nós, é chamada de procepção da realidade.

O principal conhecimento que devemos ter disso, é que a realidade será sempre representada intimamente e de acordo com os filtros afetivos de cada um, ou seja, de acordo com a sensibilidade (afetiva) de cada um.

A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa maneira de ver e sentir o mundo e só essa realidade (única para nós) nos interessa. Nossa percepção pessoal da realidade engloba não apenas a concepção que temos das coisas que estão fora da gente, como os fatos, eventos, objetos, pessoas, etc., mas também os conceitos que cultivamos dentro da gente, nossas escalas de valores, nosso conflitos e complexos. Dentro de todo esse material interno ou intra-psíquico inclui-se, também, a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja, inclui nossa auto-estima.

Nossa auto-estima, por exemplo, poderá ser representada mais negativamente ou mais positivamente, de acordo com a tonalidade afetiva de cada um. Algumas pessoas se vêem ótimos, outras se vêem péssimos. Assim sendo, a idéia que temos de nós mesmos pode, por si só, ser um estímulo agressivo e causador de ansiedade, caso seja uma idéia de nós seja uma idéia ruim e que nos perturba constantemente.

Mesmo em se tratando de um eventual estímulo externo, proveniente do mundo objetivo e concreto, sua natureza agressiva poderá ser mais traumática ou menos traumática, ou seja, mais estressante ou menos estressante, dependendo da conotação mais agressiva ou menos agressiva à ele atribuída por nossa sensibilidade (afetiva). Ter que falar em público, por exemplo, pode representar uma ameaça maior ou menor, dependendo das circunstâncias pessoais.

Vendo uma antiga fotografia de algum ente querido já falecido, algumas pessoas experimentam sentimentos tenros, suaves, saudosos e até agradáveis, outras, por sua vez, podem experimentar sentimentos de angústia, tristeza, sensação de perda, pesar, enfim, sentimentos desagradáveis. O que, realmente, dentro das pessoas faz com que essa foto seja valorizada (Representada) dessa ou daquela maneira é a Afetividade.

A Afetividade é, pois, quem dá valor e Representa nossa realidade. Essa Afetividade também é capaz de Representar um ambiente cheio de gente como se fosse ameaçador, estressante, e é capaz de nos fazer imaginar que pode existir uma cobra dentro do quarto ou ainda, é capaz de produzir pânico ao nos fazer imaginar que podemos morrer de repente.

A Afetividade valoriza tudo em nossa vida, tudo aquilo que está fora de nós, como os fatos e acontecimentos, bem como aquilo que está dentro de nós (causas subjetivas), como nossos medos, nossos conflitos, nossos anseios, etc. A Afetividade valoriza também os fatos e acontecimentos de nosso passado e nossas perspectivas futuras.

O melhor exemplo que podemos referir para entender a Afetividade, conforme já falamos em outros locais desse site, é compará-la à óculos através dos quais vemos o mundo. São esses hipotéticos óculos que nos fazem enxergar nossa realidade desse ou daquele jeito. Se esses óculos não estiverem certos podemos enxergar as coisas maiores ou menores do que são, mais coloridas ou mais cinzentas, mais distorcidas ou fora de foco. Tratar da Afetividade significa regular os óculos através dos quais vemos nosso mundo.



para referir:
Ballone GJ, Moura EC - Estresse - Introdução -

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Distimia Muito mais frequente que a depressão franca, a Distimia é a denominação psiquiátrica do mau humor .

Distimia ou Transtorno Distímico é uma forma crônica de depressão, cuja gravidade costuma ser menor do que a Depressão Maior. Em benefício de melhor entendimento, felizmente parece haver um consenso de que o chamado Transtorno Depressivo Maior, a Distimia e algumas Disforias (rebaixamentos do estado de humor) transitórias seriam manifestações de um mesmo processo patológico, o qual resulta em sintomas depressivos. Tal variedade de estados de humor deprimido compartilha os mesmos sintomas, responde aos mesmos medicamentos antidepressivos e podem ser abordados por técnicas psicoterapêuticas similares.

Geralmente o paciente com Distimia costuma ter o humor algo depressivo a maior parte do tempo, mas não expressivamente depressivo como acontece na Depressão Maior. Pode apresentar inquietação, ansiedade e sintomas neurovegetativos, como por exemplo, queixas digestivas, cardiocirculatórias, musculares, dor de cabeça. É muito marcante nos distímicos a tendência em dedicar pouco tempo para atividades de lazer, valorizando em excesso atividades produtivas. Outros sintomas que chama a atenção é a tendência à irritabilidade, ironias, crises de raiva e excesso de críticas.

É certo entender a Distimia como uma síndrome depressiva de grau leve ou moderado, cujos sintomas são persistentes e cuja prevalência é maior do que a Depressão Maior.
Os critérios oficiais para diagnóstico de distimia foram estabelecidos pela primeira vez na terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana (DSM.III), em 1980.

Depois da classificação do DSM.III a Distimia tornou-se um termo popular para definir o rebaixamento do humor, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países cientificamente alinhados, como o Brasil. Na Europa, entretanto, o termo Distimia em si enfrenta resistência, principalmente na Inglaterra, onde tal conceito está diluído dentro do diagnóstico de Depressão Menor e Depressão Ansiosa, as quais representam um grupo de transtornos comumente encontrados na prática médica geral.

Os estudos epidemiológicos mais recentes mostram que existe uma comorbidade elevada na Distimia, de forma que mais de 2/3 dos pacientes apresentam também Depressão Maior, Abuso de Substância ou algum Transtorno de Ansiedade junto com a Distimia.

Resumindo, Distimia é um transtorno depressivo do humor, tem natureza crônica, se inicia insidiosamente desde a infância ou adolescência e não tem sintomas graves o suficiente para ser diagnosticada como Depressão Maior, ou seja, o transtorno é considerado como uma depressão de baixa intensidade, flutuante e duradoura.

Alguns pacientes distímicos, de fato, não se queixam propriamente de tristeza, entretanto, queixam muito apropriadamente de falta de alegria de viver: “- doutor, eu não estou com tristeza, mas também não sinto alegria ou prazer com nada”. Além disso, os próprios distímicos manifestam grande preocupação com sua inadequação. Quer dizer, eles mesmos sabem que são “chatos” e lamentam por isso.

Muitas pessoas com Distimia relatam que estiveram deprimidas durante toda a sua vida e acabam tendo uma concepção existencial deturpada pelo mau humor crônico. Geralmente elas se auto-definem como tristes ou "na fossa", mas geralmente são definidas pelas outras como mal humoradas, amargas, irônicas e implicantes. Embora a Distimia seja considerada menos grave que a Depressão Maior, suas conseqüências podem ser graves e incluem prejuízo grave do desempenho familiar, social e profissional, aumento de sintomas físicos e doenças psicossomáticas e aumento do risco de desenvolver Depressão Maior.

Em geral esses pacientes costumam ser tensos, rígidos e resistentes às sugestões de terapia. Como freqüentemente eles podem ser sarcásticos, rabugentos, exigentes e queixosos, não é raro que o médico de outras especialidades sinta-se irritado com eles. Apesar disso, o funcionamento social das pessoas com Distimia é relativamente estável e muitas delas investem sua energia fortemente no trabalho, desprezando quase totalmente o prazer, as atividades familiares e sociais. (Akiskal, 1999)

A prevalência da Distimia na população geral é assustadora. Alguns autores cogitam ser aproximadamente de 3 a 6% da população geral os portadores de Distimia (Seretti, 1999 – Akiskal, 1994 – Avrichir, 2002), sendo um dos quadros clínicos mais comumente encontrados na prática médica. Em relação à distribuição da Distimia entre homens e mulheres, o transtorno é relativamente mais freqüente em mulheres, embora não tanto como acontece na Depressão Maior, onde a proporção é de 2:1.

A despeito da imensa população de distímicos, esses pacientes não procuram ou relutam muito em procurar tratamento específico para a questão emocional, apesar de se manterem sempre muito queixosos e insatisfeitos com a vida. Trata-se de uma alteração afetiva bastante incômoda, não só do ponto de vista emocional, fazendo sofrer o paciente e, comumente, quem com ele convive, como também do ponto de vista orgânico, se manifestando por inúmeros sintomas físicos, os quais acabam fazendo com que os pacientes procurem os médicos com queixas vagas e mal definidas, tais como mal-estar, letargia e fadiga.

Por outro lado, se os distímicos relutam em procurar ajuda psiquiátrica, a maioria deles procura médicos de outras especialidades e geralmente eles não serão diagnosticados corretamente (Akiskal, 2001). Por causa disso, inúmeros exames de laboratórios são inutilmente solicitados, inúmeras consultas a especialistas são marcadas, muitos medicamentos são inutilmente consumidos.

Provaveis causas
Os mecanismos neuropsiquiátricos envolvidos na Distimia ainda não foram claramente esclarecidos, entretanto, já se pode falar em alterações nos sistemas neuroendócrinos, principalmente no eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal e hipotálamo-hipófise- tireoidiano, tal como acontece nas doenças depressivas em geral.

De fato, os dados do eletroencefalograma (EEG) durante o sono e as anormalidades nos testes dos neuro-hormônios TRH-TSH das pessoas distímicas mostram os mesmos padrões neurofisiológicos encontrados no Transtorno Depressivo Maior, reforçando assim a natureza constitucional do transtorno (Akiskal, 1994).

O envolvimento dos sistemas de alguns neurotransmissores e neuroreceptores, tal como também acontece nas doenças depressivas em geral, pela resposta positiva aos medicamentos que aumentam a disponibilidade de serotonina, noradrenalina e dopamina.

A causa da Distimia, como tantos outros quadros afetivos, é multifatorial. Entre esses múltiplos fatores destacam-se a hereditariedade, predisposição biológica, traços de temperamento, estressores vivenciais, entre outros. Eventos de vida estressantes na infância podem ter um papel importante no perfil afetivo distímico do adulto, segundo alguns pesquisadores (Hayden, 2001 - Lizardi, 2000).

A grande taxa de comorbidade com outras doenças psiquiátricas (cerca de 77% dos distímicos terão comorbidades psiquiátricas)25 torna ainda mais importante o diagnóstico da distimia para o manejo adequado das psicopatologias comórbidas.

Tratamento clínico
A psicoterapia é um importante componente do tratamento. Em geral a terapia cognitiva comportamental tem demonstrado ser eficaz no tratamento de distimia. A terapia cognitiva comportamental deve ser planejada para ser realizado por um tempo limitado, cujos objetivos principais é fazer o paciente reconhecer as circunstâncias que levam à depressão e estruturar a uma resposta emocional adequada.

Sobre o uso de medicamentos, existe evidência científica comparando o uso de antidepressivo e o uso placebo para o tratamento medicamentoso da Distimia. Estudos mostram que 50 a 60% dos pacientes com distimia respondem ao tratamento com antidepressivos (Williams , 2000). Atualmente o tratamento considerado mais eficaz é aquele que associa o uso de medicamentos com psicoterapia, principalmente a terapia da linha cognitiva comportamental.

De fato, os antidepressivos são eficazes no tratamento em curto prazo da distimia (Lima, 1999). Entre os antidepressivos indicados para o tratamento da Distimia sugerem-se os serotoninérgicos, não só pela eficácia terapêutica, como pela maior tolerabilidade. As doses geralmente são as habituais, sem nenhuma evidência de que doses maiores sejam necessárias.

Apesar dos resultados dos antidepressivos serem satisfatórios em curto prazo, isto é, em no máximo 12 semanas, deve-se considerar a natureza crônica da Distimia. Isso quer dizer que há possibilidades do mesmo perfil distímico voltar depois de algum tempo da interrupção da medicação. Isso é um dos motivos pelos quais a psicoterapia tem fundamental importância. Espera-se que depois de 12 meses de tratamento medicamentoso juntamente com psicoterapia, o paciente tenha adquirido uma nova atitude emocional não patogênica.

Ballone, GJ - Distimia, Psiquiatria Geral

Referências
Akiskal HS - Dysthymia and cyclothymia in psychiatric practice a century after Kraepelin. J Affect Disord 2001;62:17-31.
Akiskal HS - Dysthymia: clinical and external validity. Acta Psychiatr Scand 1994;89(suppl 383):19-23.
Akiskal HS - Mood disorders. In: Sadock BJ, Sadock VA, eds. Kaplan & Sadock's Comprehensive textbook of psychiatry. 7th ed. Philadelphia: Library of Congress, 1999.
Avrichir BS, Elkis H - Prevalence and underrecognition of dysthymia among psychiatric outpatients in São Paulo, Brazil. J Affect Disord 2002;69:193-9.
Hayden EP, Klein DN - Outcome of dysthymic disorder at 5-year follow-up: the effect of familial psychopathology, early adversity, personality, comorbidity, and chronic stress. Am J Psychiatry 2001;158:1864-70.
Lima MS, Moncrieff J - A comparison of drugs versus placebo for the treatment of dysthymia: a systematic review. The Cochrane Library 1999, Issue 1.
Lizardi H, Klein DN - Parental psychopathology and reports of the childhood home environment in adults with early-onset dysthymic disorder. J Nerv Ment Dis 2000;188(2):63-70.
Serretti A, Jori MC, Casadei L, Ravizza L, Smeraldi E, Akiskal H - Delineating psychopathologic clusters within dysthymia: a study of 512 out-patients without major depression. J Affect Disord 1999; 56:17-25.
Williams JW, Barrett J, Oxman T, Frank E, Katon W, Sullivan M, et al - Treatment of dysthymia and minor depression in primary care: a randomized controlled trial in older adults. JAMA 2000;284(12):1519-26.

Gleidson Marques Silva
Psicólogo/Psicoterapêuta
CRP 13/3886

terça-feira, 26 de abril de 2011

LIMPEZA INTERIOR!!!!!ARRUME JÁ!!!!

A bagunça é inimiga da prosperidade. Ninguém está livre da desorganização. A bagunça forma-se sem que se perceba e nem sempre é visível. A sala parece em ordem, a cozinha também, mas basta abrir os armários para ver que estão cheios de inutilidades.

De acordo com o Feng Shui Interior – uma corrente do Feng Shui que mistura aspectos psicológicos dos moradores com conceitos da tradicional técnica chinesa de harmonização de ambientes – bagunça provoca cansaço e imobilidade, faz as pessoas viverem no passado, engorda, confunde, deprime, tira o foco de coisas importantes, atrasa a vida e atrapalha relacionamentos. Para evitar tudo isso fique atento às

Sete regras para domar a bagunça:

1. Jogue fora o jornal de anteontem.
2. Somente coloque uma coisa nova em casa quando se livrar de uma velha.
3. Tenha latas de lixo espalhadas nos ambientes, use-as e limpe-as diariamente.
4. Guarde coisas semelhantes juntas; arrume roupas no armário de acordo com a cor e fique só com as que utiliza mesmo.
5. Toda sexta-feira é dia de jogar papel fora.
6. Todo dia 30, por exemplo, faça limpeza geral e use caixas de papelão marcadas: lixo, consertos, reciclagem, em dúvida, presentes, doação. Após enchê-las, dê destino.
7. Organize devagar. Comece por gavetas e armários e depois escolha um cômodo; faça tudo no seu ritmo e observe as mudanças acontecendo na sua vida.

Veja agora uma lista de atitudes pessoais capazes de esgotar as nossas energias. Conheça cada uma dessas ações para evitar a ‘crise energética pessoal’.

A) Maus hábitos, falta de cuidado com o corpo > Descanso, boa alimentação, hábitos saudáveis, exercícios físicos e o lazer são sempre colocados em segundo plano. A rotina corrida e a competitividade fazem com que haja negligência em relação a aspectos básicos para a manutenção da saúde energética.

B) Pensamentos obsessivos > Pensar gasta energia e todos nós sabemos disso. Ficar remoendo um problema cansa mais do que um dia inteiro de trabalho físico. Quem não tem domínio sobre seus pensamentos – mal comum ao homem ocidental, torna-se escravo da mente e acaba gastando a energia que poderia ser convertida em atitudes concretas, além de alimentar ainda mais os conflitos. Não basta estar atento ao volume de pensamentos, é preciso prestar atenção à sua qualidade. Pensamentos positivos, éticos e elevados podem recarregar as energias, enquanto o pessimismo consome energia e atrai mais negatividade para nossas vidas.

C) Sentimentos tóxicos > Choques emocionais e raiva intensa também esgotam as energias, assim como ressentimentos e mágoas nutridos durante anos seguidos. Não é à toa que muitas pessoas ficam estagnadas e não são prósperas. Isso acontece quando a energia que alimenta o prazer, o sucesso e a felicidade é gasta na manutenção de sentimentos negativos. Medo e culpa também gastam energia, e a ansiedade descompassa a vida. Por outro lado, os sentimentos positivos, como a amizade, o amor, a confiança, o desprendimento, a solidariedade, a auto-estima, a alegria e o bom-humor recarregam as energias e dão forças para empreender nossos projetos e superar os obstáculos.

D) Fugir do presente > As energias são colocadas onde a atenção é focada. O homem tem a tendência de achar que no passado as coisas eram mais fáceis: ‘Bons tempos aqueles!’, costumam dizer. Tanto os saudosistas, que se apegam às lembranças do passado, quanto aqueles que não conseguem esquecer os traumas, colocam suas energias no passado. Por outro lado, os sonhadores ou as pessoas que vivem esperando pelo futuro, depositando nele sua felicidade e realização, deixam pouca ou nenhuma energia no presente. E é apenas no presente que podemos construir nossas vidas.

E) Falta de perdão > Perdoar significa soltar ressentimentos, mágoas e culpas. Libertar o que aconteceu e olhar para frente. Quanto mais perdoamos, menos bagagem interior carregamos, gastando menos energia ao alimentar as feridas do passado. Mais do que uma regra religiosa, o perdão é uma atitude inteligente daquele que busca viver bem e quer seus caminhos livres, abertos para a felicidade. Quem não sabe perdoar aos outros e a si mesmo, fica ‘energeticamente obeso’, carregando fardos passados.

F) Mentira pessoal > Todos mentem ao longo da vida, mas para sustentar as mentiras muita energia é gasta. Somos educados para desempenhar papéis e não para sermos nós mesmos: a mocinha boazinha, o machão, a vítima, a mãe extremosa, o corajoso, o pai enérgico, o mártir e o intelectual. Quando somos nós mesmos, a vida flui e tudo acontece com pouquíssimo esforço.

G) Viver a vida do outro > Ninguém vive só e por meio dos relacionamentos interpessoais evoluímos e nos realizamos, mas é preciso ter noção de limites e saber amadurecer também nossa individualidade. Esse equilíbrio nos resguarda energeticamente e nos recarrega. Quem cuida da vida do outro, sofrendo seus problemas e interferindo mais do que é recomendável, acaba não tendo energia para construir sua própria vida. O único prêmio, nesse caso, é a frustração.

H) Bagunça e projetos inacabados > A bagunça afeta muito as pessoas, causando confusão mental e emocional. Um truque legal quando a vida anda confusa é arrumar a casa, os armários, gavetas, a bolsa e os documentos, além de fazer uma faxina no que está sujo. À medida que ordenamos e limpamos os objetos, também colocamos em ordem nossa mente e coração. Pode não resolver o problema, mas dá alívio. Não terminar as tarefas é outro ‘escape’ de energia. Todas as vezes que você vê, por exemplo, aquele trabalho que não concluiu, ele lhe ‘diz’ inconscientemente: ‘Você não me terminou! Você não me terminou!’ Isso gasta uma energia tremenda. Ou você a termina ou livre-se dele e assuma que não vai concluir o trabalho. O importante é tomar uma atitude. O desenvolvimento do auto-conhecimento, da disciplina e da ‘terminação’ fará com que você não invista em projetos que não serão concluídos e que apenas consumirão seu tempo e energia.

I) Afastamento da natureza > A natureza, nossa maior fonte de alimento energético, também nos limpa das energias estáticas e desarmoniosas. O homem moderno, que habita e trabalha em locais muitas vezes doentios e desequilibrados, vê-se privado dessa fonte maravilhosa de energia. A competitividade, o individualismo e o estresse das grandes cidades agravam esse quadro e favorecem o vampirismo energético, onde todos sugam e são sugados em suas energias vitais.

Atitudes erradas jogam energia pessoal no lixo. Posicionar os móveis de maneira correta, usar espelhos para proteger a entrada da casa, colocar sinos de vento para elevar a energia ou ter fontes d’água para acalmar o ambiente, são medidas que se tornarão ineficientes se quem vive nesse espaço não cuidar da própria energia. Portanto, os efeitos positivos da aplicação do Feng Shui nos ambientes estão diretamente relacionados à contenção da perda de energia das pessoas que moram ou trabalham no local. O ambiente faz a pessoa, e vice-versa.

A perda de energia pessoal pode ser manifestada de várias formas, tais como: falha de memória (o famoso ‘branco’); cansaço físico; sono deixa se ser reparador; surgimento de doenças degenerativas e psicossomáticas; o crescimento pessoal, a prosperidade e a satisfação diminuem; os talentos não se manifestam mais por falta de energia; o magnetismo pessoal desaparece; medo constante de que o outro o prejudique, aumentando a competição, o individualismo e a agressividade, etc.

Para combater as energias negativas preste mais atenção no Feng Shui interior. “Arrume-se” por completo (interior e exteriormente) e sua vida fluirá de uma forma natural e harmoniosa.
Gleidson Marques Silva
Psicólogo/Psicoterapêuta
CRP 13/3886

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Maldade na Infância e Adolescência: Bullying

Um dos grandes equívocos de nossa sociedade está em acreditar que basta ser criança para ser uma pessoa boazinha. Costumava causar impacto ao afirmar, politicamente incorreto, que as crianças são naturalmente más (parodiando Hobbes e seu Estado Natural). São elas que agridem os menores, pisam em formiguinhas, tocam fogo no rabo do gato, são egoístas ao extremo, querem tudo para elas próprias, judiam dos mais fracos e participam do fenômeno conhecido por Bullying. De fato, isso não é ser bonzinho (Violência e Agressão da Criança e Adolescente).
O termo Bullying, que não existe na língua portuguesa. Ele significa formas de agressões intencionais repetidas por estudantes, que causam angústia ou humilhação a outro. Compreende, pois, todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivações evidentes, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. O Bullying se encontra presente, possivelmente, em variadíssimas situações, tais como, colocar apelidos, ofender, zoar, gozar, sacanear, humilhar, discriminar, excluir, isolar, ignorar, intimidar, perseguir, assediar, aterrorizar, amedrontar, tiranizar, dominar, agredir, bater, chutar, empurrar, ferir, roubar, quebrar pertences, etc.
Segundo artigo de Aramis Antônio Lopes Neto e Lauro Monteiro Filho o Bullying pode se manifestar de quatro formas diferentes: verbal, físico, psicológico e sexual. Referem pesquisas onde a maioria dos alunos vitimados por Bullying destaca como a situação mais freqüente a identificação por apelido com maldade e com propósitos de humilhação, seguido do roubo de pertences (39%), a indução ao uso de drogas (30%) e os ataques violentos (25%).
Normalmente existem três tipos de pessoas envolvidas nessa situação de violência: o expectador, a vítima e o agressor. O expectador é aquele que presencia as situações de Bullying e não interfere. Sua omissão deve-se por duas razões principais: por tornar-se inseguro e temeroso e por isso sentir medo de sofrer represálias ou, ao contrário, por estar sentindo prazer com o sofrimento da vítima e não tem coragem de assumir a identidade de agressor. Os expectadores do primeiro tipo (os mais medrosos), apesar de não sofrerem as agressões diretamente, podem se sentir incomodados com a situação e com a incapacidade de agirem.
A vítima, por outro lado, costuma ser a pessoa mais frágil, com algum traço ligeiramente destoante do modelinho culturalmente imposto ao grupo etário em questão, traço este que pode ser físico (uso de óculos, alguma deficiência, não ser tão bonitinho...) ou emocional, como é o caso da timidez, do retraimento...
Vítima costuma ser uma pessoa que não dispõe de habilidades físicas e emocionais para reagir, tem um forte sentimento de insegurança e um retraimento social suficiente para impedí-la de solicitar ajuda. Normalmente é uma pessoa retraída e com dificuldades para novas amizades ou para se adequar ao grupo. A vítima é freqüentemente ameaçada, intimidada, isolada, ofendida, discriminada, agredida, recebe apelidos e provocações, tem os objetos pessoais furtados ou quebrados. No ambiente familiar a vítima apresenta sinais de evitação, medo ou receio de ir para escola, mas, não obstante, como dissemos, não procura ajuda dos familiares, professores ou funcionários da escola.
Tudo isso acaba fazendo com que a vítima troque de escola freqüentemente, ou pior, que abandone os estudos. Nos casos mais graves a vítima contumaz acaba desenvolvendo uma severa depressão, podendo chegar a tentar ou cometer o suicídio.
Os agressores no Bullying são, comumente, pessoas antipáticas, arrogantes e desagradáveis. Alguns trabalhos sugerem que essas pessoas vêm de famílias pouco estruturadas, com pobre relacionamento afetivo entre seus membros, são debilmente supervisionados pelos pais e vivem em ambientes onde o modelo para solucionar problemas recomenda o uso de comportamento agressivo ou explosivo.
Há fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que praticam o Bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais, psicopáticos e/ou violentos, tornando-se, inclusive, delinqüentes ou criminosos. Normalmente o agressor acha que todos devem atender seus desejos de imediato e demonstra dificuldade de colocar-se no lugar do outro.
O Bullying é um problema mundial, é um problema do ser humano imaturo, logo, deve acompanhar a humanidade desde a pré-história. É um fenômeno encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana, em qualquer país.
Os meninos estão mais envolvidos com o Bullving com ama freqüência muito maior,tanto como autores quanto como alvos.Já entre as meninas,embora com menor freqüência,o Bullying também ocorre e se caracteriza,principalmente,como prática de exclusão ou de difamação.

De acordo com Rosana Del Picchia de Araújo Nogueira e Kátia A Kühn Chedid, o conceito de Bullying pode também ser aplicado na relação de pais e filhos e entre professor e aluno, citando como exemplos, aqueles adultos que ironizam, ofendem, expõe as dificuldades perante o grupo, excluem, fazem chantagens, colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar sua superioridade e poder, usando deste comportamento freqüentemente.
De acordo ainda com artigo Bullying na Escola e na Vida, de Nogueira e Chedid, citado acima, em Portugal um em cada cinco alunos (22%), de 6 a 16 anos, já foi vítima de Bullying na escola, sendo o local mais comum de ocorrência de maus-tratos os pátios de recreio (78% dos casos) e os corredores (31,5% dos casos). Na Espanha a incidência do Bullying se situa em torno de 15% a 20% nas pessoas em idade escolar, quase o mesmo observado em Portugal e em outros países da Comunidade Européia.
Muitas crianças, vítimas de Bullying, desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente evitam retornar à escola. A fobia escolar geralmente tem como causa algum tipo dessa violência. Outras crianças que sofrem Bullying, dependendo das características de suas personalidade e das relações com os meios onde vivem, em especial entre suas famílias, poderão não superar totalmente os traumas sofridos na escola. Elas poderão crescer com sentimentos negativos e com baixa autoestima, apresentando sérios problemas de relacionamento no futuro. Poderão, outrossim, assumir um comportamento agressivo, vindo a praticar o Bullying no ambiente sócio-cupacional adulto e em casos extremos, poderão tentar ou a cometer suicídio.
Raymundo de Lima, citando Lopes Neto (veja), observa que os casos de suicídio acontecem, em geral, nas pessoas que não suportaram a grande pressão psicológica do Bullying. Observa ainda o pior efeito da pressão sofrida nos casos de Bullying seja, talvez, fazer a vítima se sentir absolutamente inexpressiva, insignificante, abjeta, desprezível, enfim, uma agressão que combina fazer de conta que a vítima não existe, aniquilando totalmente a autoestima, suprimindo, inclusive, as condições para ela desabafar com alguém.
para referir:
Ballone GJ - Maldade da Infância e Adolescência: Bullying - in.
Gleidson Marques Silva Psicólogo/Psicoterapêuta
CRP 13/3886

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Síndrome de Don Juan





Fica mais difícil entender os novos tempos, quando consideramos que as expressões ficar com... e sair com... significam a mesma coisa, apesar dos termos ficar e sair serem antagônicos.

Donjuanismo é uma expressão em desuso que veio à tona há algum tempo, depois do filme Don Juan de Marco, com Marlon Brando e Johnny Depp. O filme Don Juan de Marco foi escrito e dirigido por Jeremy Leven.

Don Juan é um personagem literário tido como símbolo da libertinagem. O primeiro romance com referência ao personagem foi a obra El Burlador de Sevilla, de 1630, do dramaturgo espanhol Tirso de Molina. Posteriormente Don Juna aparece em José Zorrilla com a estória de Don Juan Tenorio. A figura de Don Juan foi também cultuada na música, em obras de Strauss e Mozart, este último com a ópera Don Giovanni, composta em 1787. Outro paradigma do eterno sedutor é a figura de Casanova, conhecida pela autobiografia do veneziano Giovanni Jacopo Casanova.

Mas a figura do eterno sedutor continua atrelada à Don Juan, que aparece ainda na obra de Molière, em Le Festin de Pierre, no poema satírico de Byron chamado simplesmente Don Juan, no drama de Bernard Shaw, chamado Man and Superman.

Segundo Jung, para quem qualquer forma de arte, assim como os mitos, são veículos para a expressão do inconsciente coletivo, Don Juan pode representar nossos arquétipos (Walter Boechat - veja mais sobre o filme).Trata-se de um padrão de personalidade caracterizado por uma pessoa narcisista, enamorada , inescrupulosa, amada e odiada e que faz tudo valer para a conquista de uma mulher.

O donjuanismo representa um protótipo particular de comportamento humano, classificação esta estribada particularmente em valores culturais e morais. Não existe essa denominação no CID.10 ou DSM.IV, mas isso não significa, absolutamente, que pessoas assim deixam de existir.

Independente das interpretações psicanalíticas sobre o filme Dom Juan de Marco, interessa aqui apenas caracterizar um tipo de conduta atual; a inclinação que as pessoas têm para liberdade sexual explícita. A característica principal do que se pode chamar hoje de donjuanismo, seria uma forte compulsão para sedução, entretanto essa ocorrência não é isolada nem única na personalidade da pessoa, mas reflete sim uma estrutura social e comportamental especial.

Descreve-se o donjuanismo como uma personalidade que necessita seduzir o tempo todo, que aparentemente se enamora da pessoa difícil mas, uma vez conquistada, a abandona. As pessoas com esse traço não conseguem ficar apegados a uma pessoa determinada, partindo logo em busca de novas conquistas. As pessoas com essas características são os anarquistas do amor (Sapetti), tornando válidos quaisquer meios para conquistar, entretanto, os entimentos da outra pessoa não são levados em conta. Aliás, Foucault enfatiza essa questão ao dizer que Don Juan arrebenta com as duas grandes regras da civilização ocidental, a lei da aliança e a lei do desejo fiel.

Em psiquiatria clínica, entretanto, a despeito do aspecto contestador que Foucault quer ver nessa atitude, o desprezo para com o sentimento alheio pode ser critérios para o diagnóstico de Sociopatia ou Personalidade Anti-Social. Para o donjuan só interessa o instante do prazer e o triunfo sobre sua conquista, principalmente quando a presa de seu interesse tem uma situação civil proibida (casada, freira, irmã ou filha de amigo, etc).

Normalmente essas pessoas ignoram a decência e a virtude moral mas seu papel social tenta mostrar o contrário; são eminentemente sedutores. Sobre essa característica o escritor Carlos Fuentes, alega ao seu Don Juan a frase: "Porque nenhuma mulher me interessa se não tiver um amante, marido, confessor ou Deus, ao qual pertença ...".

O aspecto de desafio mobiliza o donjuan, fazendo com que a conquista amorosa tenha ares de esporte e competição, muitas vezes convidando amigos para apostas sobre sua competência em conquistar essa ou aquela mulher. Não é raros que esses conquistadores tragam listas e relações das mulheres conquistadas, tal como um troféu de caça.

Por outro lado, segundo Kaplan, deve haver significativos sentimentos homossexuais latentes desses indivíduos. Esse autor considera que, levando para a cama a mulher de outro, o donjuan estaria inconscientemente se relacionando com o marido, motivo maior de seu prazer. Tanto que é maior o prazer quanto mais expressivo é o marido ou namorado traído.

O narcisismo (traço feminóide) dessas pessoas é uma das características mais marcantes, ao ponto delas amarem muito mais a si mesmas que a qualquer outra pessoa conquistada. Outros autores acham o donjuanismo um excesso do complexo de Édipo, ou fixação na mãe, já que muitos deles não constituem família com nenhuma de suas conquistas e acabam vivendo para sempre com suas mães.

Nos casos mais sérios a inclinação à sedução pode adquirir caráter de verdadeira compulsão, tal como acontece no jogo patológico. De certa forma, a conquista compulsiva do Donjuan serve-lhe para melhorar sua sensação de segurança e auto-estima, entretanto, uma vez possuído o que desejava, já não o deseja mais. Em alguns casos o Donjuan começa a se desestimular com a conquista, quando percebe que a mulher conquistada já está apaixonada por ele, ou ainda, pode nem haver necessidade do ato sexual a partir do momento em que ele percebe que a mulher aceita e deseja o sexo com ele. Por outro lado, se a mulher é indiferente ou não cede à sua sedução, o Donjuan se torna mais obstinado ainda.

Não será totalmente lícito dizer, como dizem alguns, que o Donjuan se diverte com o sofrimento alheio. Na realidade parece mais que seja insensível ao sentimento alheio do que tenha prazer com ele. De fato, parece que eles não experimentam com o amor o mesmo tipo de sentimento que as demais pessoas. O amor neles é um sentimento fugaz, passageiro e que, continuadamente, tem o objeto alvo renovado. Se algum déficit pode ser apurado na personalidade do Donjuan, este se dá no controle da vontade.

Apesar dessa compulsão à sedução, isso não significa que a pessoa portadora de donjuanismo seja, obrigatoriamente, mais viril ou mais ativo sexualmente. A contínua sedução do donjuan nem sempre se dá às custas de um eventual desempenho sexual excepcional mas sim, devido à habilidade em oferecer sempre às mulheres tudo aquilo que elas mais estão querendo. Nesse sentido, todos eles são sempre muito inconstantes, desempenham papeis sociais sempre teatrais e exclusivamente dirigidos à satisfação de suas conquistas, por isso fazem sempre o tipo "príncipe encantado", tão cultuado pelo público feminino. Eles têm habilidade em perceber rapidamente os gostos e franquezas de suas vítimas e, são igualmente rápidos em atender as mais diversas expectativas.

Há quem considere como uma das características fundamentais da personalidade do donjuan uma acentuada imaturidade afetiva. O aspecto volúvel e responsável pela constante troca de relacionamento pode ser indício dessa imaturidade afetiva e indica, sobretudo, uma completa carência de responsabilidade ou medo de assumir os compromissos normais das pessoas maduras (casamento, família, filhos, etc.).

"Ficar com..."

"Ficar com...", "sair com...", "namorix", são termos atualmente usados para designar a atitude de se relacionar sexualmente (com penetração sexual ou não), fortuitamente, fugazmente e sem nenhum compromisso de continuidade. Este relacionamento é fortuito porque não implica, obrigatoriamente, em nenhuma combinação ou contrato prévio, é fugaz devido à provisoriedade da união. Não há compromisso de continuidade porque, ao menor sinal de interesse de um dos envolvidos no sentido de continuar, a relação se desfaz e é evitada (diz-se que fulano(a) não é legal porque pega no pé). Nessa nova modalidade de relacionamento não há envolvimento amoroso, não há cobrança de compromisso e os objetivos se concretizam e se esgotam no orgasmo ou na despedida, normalmente com satisfação bilateral.

A mulher começou a expandir significativamente sua sexualidade depois da disseminação do uso da pílula anticoncepcional, nas décadas de 60-70, e a inconseqüência sexual que antes era monopólio dos homens, também passou a ser experimentada por ela. Descobriu-se que o prazer podia ser bilateral e, a partir daí, deixou-se de falar que fulano se aproveitou de fulana; ambos se aproveitam.

A atitude de "Ficar com..." é diferente daquilo que se entende por donjuanismo porque não implica numa verdadeira conquista. "Ficar com..." é uma afinidade recíproca, e um não conquista o outro porque ambos estão, decididamente, com o mesmo objetivo em mente.

Se no donjuanismo a insensibilidade e menosprezo para com o sentimento alheio são a marca do diagnóstico, "ficar com..." implica, em essência e caracteristicamente, na ausência de sentimentos mais profundos de ambas as partes. Assim sendo, não havendo sentimentos profundos, não há o que menosprezar.

Conseqüentemente e decididamente, entre a população adepta do "ficar com..." não há espaço para o Donjuan. Nesse meio ele não encontra sua presa, já que as mulheres não preenchem os requisitos de candidatas. Aqui as mulheres, como se diz, estão a fim, não costumam ser comprometidas, não são conquistadas, uma vez que o conluio é também o objetivo delas, portanto, a compulsão do Don Juan se desfaz ante a ausência do desafio.

Donjuanismo Feminino

Mas, mesmo com a moda do "ficar com..." e com a maior liberalidade feminina o donjuanismo não desapareceu. Antes disso, atualmente já pode ser possível observá-lo entre as mulheres. Embora num campo da ação muito mais restrito, o donjuanismo continua fazendo suas vítimas sentimentais; agora, femininas e masculinas.

Não há designação satisfatória para descrever a mulher que preenche os requisitos do donjuanismo, mas elas existem indubitavelmente. São também pessoas movidas pela compulsão da conquista do outro, pela inclinação ao relacionamento impossível, seja com homens mais velhos ou muito mais novos, casados, padres, enamorados de outras mulheres, enfim, pessoas que oferecem alguma condição de desafio.

No donjuanismo feminino, tanto quanto no masculino, não há necessidade invariável de concluir a conquista através do ato sexual. Basta a mulher perceber que o objeto da conquista está, digamos, aos seus pés, que a motivação para continuar o relacionamento se desvanece.

Representação Cultural do Donjuanismo

Evidentemente o mito de Don Juan pode epresentar um ideal masculino e, em alguns segmentos culturais, também um ideal feminino. A conquista como reforço da auto-estima pode, durante alguns momentos da vida ou em certas circunstâncias afetivas, ser eficiente. Entretanto, sendo a personalidade mais bem estruturada, a atitude conquistadora acaba mais cedo u mais tarde.

Outra característica que diferencia as conquistas circunstanciais, apesar de múltiplas, do donjuanismo, é a ausência de consideração para com os sentimentos alheios que sempre está presente neste último. Nas conquistas múltiplas e circunstanciais a pessoa tem boa noção e crítica sobre os eventuais transtornos sentimentais causados nas pessoas conquistadas e, em seguida, abandonadas. Evidentemente a existência da atitude de Don Juan só existe em decorrência da existência da vítima, ou seja, o Don Juan só tem sucesso passando-se por príncipe, encantado enquanto houver mocinhas em busca de príncipes encantados.

O Don Juan nunca é uma pessoa absolutamente normal, trabalhadora e submetida às angústias do cotidiano como qualquer um, nunca é uma pessoa que sofre as limitações costumeiras da falta de dinheiro, do tédio da monotonia da vida e coisas assim. Normalmente o papel do Don Juan é excêntrico e exótico, ele é de fato o que sonham as mocinhas incautas.

Psicopatologia:

- Seria o donjuanismo uma doença?
- Seria uma doença, merecedora de tratamento ?

Considerando o critério estatístico, aquele que constata a normalidade ou não-normalidade tomando como base a ocorrência estatística do fenômeno, podemos dizer que o donjuanismo não é normal (maioria dos homens não são assim).

Mas, a maioria dos homens não é assim? Não conquistam? Não se arriscam a novos relacionamentos?

Na realidade, a diferença está no fato de que a expressiva maioria dos homens não é destituída de consideração para com o sentimento dos outros, mais especificamente, podemos dizer que a maioria os homens se mobiliza com o sentimento das mulheres.

Mas, em psiquiatria ou na medicina geral, ser não-normal não significa, obrigatoriamente, ser doente. Para ser objeto de atenção médica é necessário que essa não-normalidade implique num aspecto de morbidez, ou seja, implica na necessidade de sofrimento da pessoa ou de terceiros. Então, o donjuanismo poderá ser objeto de atenção médica na medida em que produz sofrimento.

Dentre os quadros classificados no DSM.IV e na CID.10, alguns critérios encontrados no Donjuan podem também ser encontrados no Transtorno Dissocial da Personalidade, da CID.10, ou em seu correspondente no DSM.IV, Transtorno Anti-social da Personalidade.

Entre os critérios do DSM.IV para o Transtorno Anti-social da Personalidade temos os seguintes:
Critérios para 301.7 - Transtorno da Personalidade Anti-Social
A. Um padrão invasivo de desrespeito e violação dos direitos dos outros, que ocorre desde os 15 anos, como indicado por pelo menos três dos seguintes critérios:
(1) fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos legais, indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção
(2) propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer
(3) impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro
(4) irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas
(5) desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia
(6) irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras
(7) ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado outra pessoa.
B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade.
C. Existem evidências de Transtorno da Conduta com início antes dos 15 anos de idade.

Entre esses critérios do Transtorno Anti-social da Personalidade, o Donjuan puro e sem outra patologia poderia cumprir os itens 1, 2, 3 e 7. Não mais que isso e, talvez isso não seja suficiente para alocar essas pessoas nessa classificação. Normalmente elas trabalham, não costumam ser irritáveis e agressivas, não desrespeitam a segurança própria, etc.

Entretanto, sob o código 302.9 do DSM.IV há o chamado Transtorno Sexual Sem Outra Especificação. Diz lá, que esta categoria é incluída para a codificação de uma perturbação sexual que não satisfaça os critérios para qualquer transtorno sexual específico, nem seja uma Disfunção Sexual ou uma Parafilia. Cita como exemplos o seguinte:

1. Acentuados sentimentos de inadequação envolvendo o desempenho sexual ou outros traços relacionados a padrões auto-impostos de masculinidade ou feminilidade.
2. Sofrimento acerca de um padrão de relacionamentos sexuais repetidos, envolvendo uma sucessão de amantes sentidos pelo indivíduo como coisas a serem usadas.
3. Sofrimento persistente e acentuado quanto à orientação sexual.

Nosso Don Juan poderia ser incluído no item 2 desse diagnóstico mas, mesmo assim, fica meio vago e pouco preciso pois, em nosso caso, o sofrimento seria mais por conta das vítimas do Don Juan que dele próprio e isso não está claro na descrição do DSM.IV.

Conclusões

A impressão (falsa) que se tem sobre o donjuan é que, assim como é bem sucedido nas conquistas amorosas, também deve sê-lo em relação aos demais aspectos de sua vida. Entretanto, apesar dessas pessoas dominarem muito bem a arte da conquista do sexo oposto, elas não costumam ter a mesma habilidade em outras áreas da atividade humana; ocupacional, empresarial, estudantil ou mesmo familiar.

A trajetória de sua vida nem sempre resulta num final satisfatório. Normalmente as pessoas com esse perfil de personalidade acabam por não se fixarem com nenhuma companhia mais seriamente, não constituem família e acabam se aborrecendo quando constatam que não têm mais facilidade para conquistar mocinhas de 20 anos quando já estão na casa dos 60. Além disso, muitas vezes acabam ridicularizados por essas tentativas totalmente fora do contexto.

Além disso, eles podem atravessar períodos de grande angústia na maturidade quando se dão conta de que todos seus amigos estão casados têm família e eles já não podem desfrutar de tantas companhias femininas como outrora.

Tendo-se em mente a natureza constitucional do donjuanismo, ou seja, considerando ser este um defeito do caráter, o tratamento mais eficiente deve ser pleiteado para as intercorrências emocionais que acometem o paciente por conta da situação vivencial em que se encontra e não, diretamente dirigido à essa característica da personalidade.

Gleidson Marques Silva Psicólogo/psicoterapêuta

para referir:
Ballone GJ - Síndrome de Don Juan e "Ficar com"